terça-feira, 24 de setembro de 2019

JALAPÃO II: "ARROCHA O BURITI" (*)

Pedra Furada vista da estrada.

                               


Acordamos bem cedo na manhã seguinte e descemos com nossas bagagens para o hall do hotel. Logo em frente estacionou um carro marca Toyota, modelo 4x4, branca, plotado nas laterais com o nome SAFARI DOURADO. Minha filha observou a pontualidade do motorista tão logo este se apresentou. Ele acomodou as cinco mulheres, nossas malas, nossas mochilas e nossas ansiedades.

Lá vamos nós. Óculos escuros, roupas leves conforme sugerido, chapéus ou viseiras, nada de cremes hidratantes, repelentes e ou bloqueadores solar. 
No carro tínhamos água gelada a vontade e frutas frescas. Nosso guia-motorista falava pouco, mas respondia nossas perguntas e essas eram muitas. Eu queria saber da geografia do local, da hidrografia, nomes das arvores, das flores, quais pássaros habitavam o local, quais bichos viviam por ali. E ele, calmamente, respondia a tudo. 

Fui observando, ao longo da expedição, que apesar do trabalho árduo dos guias, havia uma ligação de afeto com toda a vida da região.


Paramos algumas vezes para as necessidades fisiológicas, para um descanso, para conhecer uma serra ou uma pedra famosa ao longo do caminho. E toda a estrada estava sobre enormes bancos de areia. Durante várias horas nenhum outro carro em sentido contrário. Nenhuma pessoa andava por ali. Éramos apenas nós, quatro carros Toyota, modelo 4x4 e um bando de turistas ávidas pelo Jalapão. Eu era a mais velha do grupo. Assim começaram a me chamar, carinhosamente, de Tia Maria. Estávamos no meio daquele mundão de terrenos arenosos e árvores retorcidas, ali estava o cerrado.

Não sei em que ordem ou desordem devo descrever nossas aventuras, entretanto tentarei falar daquilo que ouvi, que deixei de ouvir, do que vi e, sobretudo, do que senti por todos aqueles dias. Sei que não queria perder nenhum detalhe da viagem e meus olhos iam de lado ao outro do carro como se fosse possível ver tudo.

A cinquenta quilômetros de Palmas passamos por Porto Nacional, cidade do século XIX, “Capital Cultural de Tocantins” e capital estadual do agronegócio. Ela está a 212 metros de altitude em relação ao mar (calor médio de 39 graus). Lembrei-me da minha amiga dizendo, com muita gratidão, que “Porto Nacional é o berço cultural de Tocantins”. Depois deixamos o asfalto e entramos nas estradas de terra e areia.

Mais cem quilômetros e chegamos a Ponte Alta do Tocantins, pequena cidade, onde meus olhos sorriram ao verem duas placas. Numa delas li Faculdade de Gestão Fazendária e na outra, escrita num talude gramado e em letras grandes, PORTAL DO JALAPÃO. Agora estávamos entrando no nosso destino e nosso primeiro mergulho seria na Lagoa do Japonês. Mesmo ainda acanhada diante da moçada, dos guias e de toda aquela gente, decidi entrar e nadar. Um espetáculo da natureza. 


As águas azuis-esverdeadas transparentes, sua calmaria e seu frescor foram os fatores que me levaram a aventurar um mergulho. Então não parei mais de nadar e mergulhar até minha próxima aventura: uma tirolesa por sobre toda a extensão da lagoa descendo por um penhasco de pedras, árvores e águas. Tudo aquilo alinhado num abraço inimaginável. Será que terei coragem?

E para lá subimos, eu, minha filha e outras corajosas mulheres. Quase sem fôlego chegamos finalmente à pequena plataforma de madeira para nos amarrarem com cintos e cordas de segurança além do indispensável capacete. Minha filha quase desistiu, mas foi. Chegou a minha vez. “Eu não vou mais. Amarelei” disse ao instrutor que me encorajava dizendo "desce até na ponta". Eu desci. Olhei para baixo e já não dava mais tempo para voltar atrás. Ai meu Deus. Lá fui eu. Segurei firme e, nos vinte segundos da estonteante descida, abri os braços, voei e gritei por duas vezes: “LULALIVRE”. Então me livrei do fantasma da inibição.

Mais tarde rumamos para outros destinos. De novo faço viagens maravilhosas tanto para fora de mim quanto para dentro da minha alma.

De um determinado ponto da estrada pude ver uma enorme rocha cujos contornos me fizeram lembrar o bisão americano e, de acordo com a proximidade, já pareceu um elefante conforme me mostrou o guia. Chegamos até aquele animal. Era a famosa Pedra Furada - “um gigantesco conjunto de blocos areníticos esculpidos pelos ventos há milhões de anos”. (**). À medida que o sol ia se pondo, os raios vão mudando as tonalidades das cores do arenito e formando um espetáculo de se ver.

As meninas voltaram extasiadas com a beleza do fenômeno e, obviamente, fizeram várias fotos delas no local.

Não fui até lá, pois fomos alertados de que havia alguns enxames das danadas abelhas africanas instaladas recentemente na redondeza da Pedra. Contudo se não fui assistir ao encanto do pôr do sol na Pedra Furada, ganhei com a presença de um pássaro que, escondido nas árvores, entoou seu canto só para mim.

Até a próxima parada.



(*) Expressão muito usada no Jalapão que, segundo me disse a linda amiga que fora comigo e minha filha, significa “mete bronca”, “vamos ver”.

(**) 
https://turismo.to.gov.br/regioes-turisticas/encantos-do-jalapao/principais-atrativos/ponte-alta-do-tocantins/).


Lagoa do Japonês



Arara do Cerrado




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