quarta-feira, 18 de setembro de 2019

JALAPÃO I: Palmas




Aprendi ainda bem jovem, acerca da geografia física do Brasil e o planalto central sempre me chamou a atenção dada suas características às avessas de nossas Minas Gerais cheias de serras e cidades cheias de morros.

Pois bem, há muitos anos ouço falar do Jalapão. Não há tanto tempo ouço falar do capim dourado. Não sabia da existência dos fervedouros nem das comunidades quilombolas naquelas terras. E jamais havia pensado nas vidas dos “jalapoeiros”. Ou seja, muitas novidades para meu mundo de conforto em torno da minha tão querida Belo Horizonte.

Então, sentindo em dívida com minha primeira filha, resolvi propor uma viagem dentro do Brasil. Sugeri três destinos e ela escolheu o Jalapão. Com minha idade um tanto já avançada, seria a hora de fazer este passeio. Mais tarde talvez seja impossível. E o Jalapão era meu favorito. Ganhamos na escolha.

Obviamente que, com a minha costumeira preguiça e a total falta de jeito com a informática, deixei por conta dela todos os detalhes da viagem. Era meu presente do seu aniversário, dia 12 de setembro.

Passagens aéreas compradas, hotel reservado, roteiros turísticos de acordo com a agência escolhida, uma pequena mala com roupas leves, calçados adequados, chapéus e lá fomos nós três: eu, minha filha e uma jovem amiga dela. 

Voamos para Palmas numa escala de três horas em Goiânia, cidade que eu não conhecia. Resolvemos sair do aeroporto e passear na cidade. Ficamos entre dois locais: Mercado Central ou Mercado Municipal. Escolhemos, sem quaisquer critérios, o Mercado Central onde poderíamos almoçar. Porém, para minha surpresa, bem defronte ao dito mercado havia uma placa gigante “Estacionamento Mercado Central” e, ao descermos conforme orientou o motorista do Uber, li no alto do prédio do mercado outra placa “Mercado Municipal de Goiânia”. Nestas horas vem meu lado obsessivo acompanhado da minha chatice e eu interrogo: é Mercado Central ou Municipal? Seja um ou outro não tem a menor importância.

Entramos saltitantes e ficamos andando pelos corredores procurando souvenires, doces, cachaças e outros produtos regionais. De repente meus olhos são convocados a olharem para uma banca de calçados “genéricos”, como bem disse minha filha, onde deparei com aqueles emborrachados de andar dentro de piscinas, rios e cachoeiras. Havia, há algum tempo, procurado em BH um deles para presentear uma colega da hidroginástica. Não os encontrei. Agora, que não posso carrega-los, eis que me aparecem bem ao alcance das mãos.

Continuamos nossa “via-crucis” pelos corredores quentes daquele mercado até nos depararmos com os restaurantes onde garçons convidavam as três turistas, apresentando cardápios variados e a gosto. Entretanto o calor nos encaminhou para um lanche modesto. Optamos por sucos naturais e empadas. Como apaixonada por elas, escolhi aquela de frango com guariroba – “é um palmito amargo do cerrado”- nos respondeu o jovem empregado. Mas, na primeira mordida, veio a decepção. Não era da massa podre, minha predileta. “É massa goiania” informou novamente o moço. Acabei adorando a tal massa. Estava tudo delicioso.

Ali comprei apenas duas pequenas lembranças para o filho e a filha que não vieram. E Goiânia não poderia ficar esquecida. Nunca havia pensado em conhecer esta capital. Agora veio a vontade.

De volta ao avião não encontrei lugar para minha mala. Os espaços acima das nossas poltronas estavam ocupados por mochilas e bolsas de mão que deveriam estar sob as poltronas conforme orientação das comissárias. Pedi a uma delas que me ajudasse e ela, simplesmente, me disse “lá nos fundos ainda tem lugar” declinando de suas próprias orientações e de seu dever. Nada contra “os fundos”, mas tudo contra o nonsense e os abusos destes passageiros. Pensei noutras posições destas pessoas, entretanto não quero falar disto aqui.

Chegamos a Palmas. Esta cidade eu sempre quis conhecer! Já no percurso entre o aeroporto e nosso hotel foi possível ver a grandeza da construção da capital de Tocantins. Traçados amplos, avenidas arborizadas com a vegetação típica da região, trânsito tranquilo, edifícios modernos, construções baixas e lindas. E, embora a temperatura estivesse em 38 graus, às 17:30 horas, a sensação térmica era bem inferior.

Logo que nos acomodamos, entrei em contato com a colega pediatra, moradora dali a quase vinte anos. Havíamos conversado no encontro de trinta e cinco anos de formados da turma de medicina UFJF/1981, em Juiz de Fora. Embora seu nome também inicie com “Maria”, ela não havia feito os primeiros semestres da terrível anatomia com o grupo das outras quatro Marias. Não sei o que houve na época. Mas jamais poderia esquecer suas risadas, a gravidez ainda no início do curso e o grande amor de sua vida, de quem falava com muita paixão.

Combinamos local e hora. Ela apareceu lá, acompanhada de sua paixão e de sua risada, no Bar Dona Maria Beach, na belíssima Praia da Graciosa onde todas as Marias nos sentimos em casa. Um drink regional e petiscos à moda do local. Falamos e rimos  como duas adolescentes em época de acadêmicas.

Escutar sua história, enquanto profissional médica, nos últimos trinta e oito anos, foi um prazer. Mais uma de nós que dedicou à Saúde Pública conforme nos foram confiados os ensinamentos da Faculdade de Medicina ainda nos anos sombrios da ditadura no Brasil.

Não pude deixar de observar o amor com o qual ela falou do estado de Tocantis. Contou que o norte de Goiás sempre fora a ferida aberta que nenhum governo queria cuidar até que optaram por deixá-lo à própria sorte. (vou querer conhecer esta história tão recente de nosso país). Após a sua criação, o jovem estado do Tocantins, desenvolveu rapidamente, despontando com sua cultura nascida na cidade de Porto Nacional, bem ao lado, com seu povo alegre e sua riquíssima história.

Combinamos novo encontro na volta da expedição. O casal nos levou até o hotel.

Agora vamos dormir porque amanhã tem o cerrado e as águas do Jalapão.

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