(Delicadezas em Tempos de Coronavírus - XXXIX)
No caminho para a Fazenda São José do Porto, em Brás Pires (MG) havia um trecho onde a mata era fechada, as árvores altas e os cipós, entrelaçavam tudo, tornando impossível adentrar por ali. Só se ouvia o som de uma queda d´água escondida no meio de tudo. O trecho era longo e, de uma curva acentuada numa descida, dava-se com o Córrego do Inferno.
Era ali que o demo aparecia nas noites escuras de lua nova. Soltava fumaça pelas ventas e seus olhos faiscavam labaredas de fogo e sangue. Deixava no ar um cheiro podre de enxofre e um hálito etílico. Ninguém se arriscava passar ali naquela luas. Tentaram mudar o nome do riacho para Córrego da Glória, para tentar exorcizar o coisa ruim. Mas o diabo enfeitiçou os passantes que continuavam a chama-lo de Córrego do Inferno.
Quem quiser ver o desconjuro é só ir lá na lua nova. Eu já me arrisquei. Fui lá. Queria ver bem de perto quem era o tal safado que aparecia nas noites sem luar. Jamais contei o que eu vi por lá. Mas conto que um primo, danado de matreiro, ganhou o apelido de Zé Capeta. Todos diziam que ele, quando morresse iria direto para o limbo e para os infernos pois teria que pagar por seus pecados. Pois bem, agora que ele morreu, voltou a amedrontar os cavaleiros e senhoras que passam pelo Córrego do Inferno.
Aviso que, quem for lá, deve levar uma garrafa de pinga, da boa. Ele vai adorar a visitinha e a cachaça.28/03/2021
Fotografia: cachoeira no meio da mata no alto da Serra da Mantiqueira - Aiuruoca (MG) - Arquivo pessoal
Consideração do mestre:
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