Foi assim que aconteceu naquele meu galinheiro que todos pensavam que seria para prender estrelas. Se bem que as moças, nas suas boas educações, resolvessem dar nomes de artistas de cinema para minhas galinhas. E as penadas entraram em cena vestida a caráter. Uma delas colocou na cabeça o cesto de frutas da Carmem Ciranda e danou a rebolar ao lado do Neguinho que, cego dos olhos e surdo dos ouvidos de tão velho, nem dava trela para ela. Nesta hora, Paçoca, o escalador de muros, começou a latir dentro do viveiro parecendo que queria voar pra perto da moça do abacaxi na cabeça. O mamoeiro, ereto ali do lado, observava tudo de maneira calado. Queria era que seus frutos estourassem para fazer uma metralhadora com os caroços e sair atirando naqueles tantos que lhe perturbavam o sossego.
Isa Brown, minha galinha botadeira, veio pedir para vestir de Sacy Pererê dizendo que estava cansada de ser red bull. Saiu ciscando terreiro afora até encontrar com uma vaca louca que havia perdido seu bezerrinho. A botadeira dos ovos vermelhos resolveu ajudar a distinta a procurar seu filho. Foi então que escutou um som desconhecido ali por perto, logo pensou que seriam os gases flatulentos da acerola e da dama da noite. Esta última ficou indignada com tamanha desfaçatez. “Eu, uma dama fazer tal coisa?”, resmungou.
Eis que, mais uma vez, aquele som rouco e esquisito, ecoou pelos lados do canil. “Nem me olhem”, resmungou Ernesto Guevara, ali apelidado de Totó. “Não sou de fazer tais coisas perto da mãe Severina”.
“Calados! Todos agora calados! Acho que também escutei um barulho de canto mal cantado”. Bradou a formiga rainha. "Ah, se eu te pego, sua danada, te faço comer todas as folhas cortadas do meu pé de jabuticaba” ameaçou a dona daquele furdunço.
Ronroncoricó...
Olhos atentos, ouvidos apurados, e a cachorrada olhou para o céu. Lá estava o casal de tucanos a cantarolar, com a voz do Frank Sinatra, a Menina de Ipanema.
“Isto não! Aqui no meu terreiro não admito canto estrangeiro.” Era a vovó Zarinha a botar ordem naqueles poleiros.
De medo da brabeza daquela vovó, todos se calaram, até a muda metida de mirtilo, tagarela feito ela só, amiudou nos seus assuntos com a alamanda.
De novo escutaram aquele som esgoelado que parecia que saía, mas não que não saía do gogó. E aquele som foi se repetindo até que todos olharam para aquele o lugar de onde ele vinha.
Lá estava o frangote, pintado de preto e branco, em cima da tampa da fossa, pensando que era seu trono. Acho que ele estava treinando muito, sem parar, porque queria virar galo e ser candidato a mascote do maior time do Brasil e cantar em todas as freguesias bem junto do Hulk e, quiçá, até junto do Dadá Maravilha.
Frangote cantador
Neguinho
Frangote cantador
Neguinho
Observação: este texto chamado de "nonsense" foi produzido conforme sugerido pela oficina de escrita. Eu o dedico ao meu neto e a todas as vovós contadoras de histórias.
Texto do meu professor de escrita:
Nonsense significa "sem sentido", em inglês, é uma expressão que denota algo disparatado, sem nexo.
Ela é frequentemente utilizada para denotar um estilo característico de humor perturbado e sem sentido, que pode aparecer em diversas artes.
Nas artes literárias, o nonsense encontra como autores Lewis Carroll e Edward Lear, ambos ingleses.
Ela é frequentemente utilizada para denotar um estilo característico de humor perturbado e sem sentido, que pode aparecer em diversas artes.
Nas artes literárias, o nonsense encontra como autores Lewis Carroll e Edward Lear, ambos ingleses.
Amamos a história!
ResponderExcluirMergulhamos.....
Que delícia essa leitura!
Que bom que gostaram do meus companheiros do sítio.
ExcluirRonroncoricó
ResponderExcluirBom dia meu neto Igui. Tô te esperando para ver minhas galinhas e meu galo frangote.
ResponderExcluirSensacional
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