terça-feira, 10 de junho de 2014

EU VOU TORCER PELO BRASIL



              Eu vou torcer pelo Brasil



   A minha copa já está começando.

  Enquanto ouço a nona sinfonia de Beethoven um foguete estronda bem próximo do meu apartamento. Meu coração que já vinha acelerando desde cedo, dispara. É a copa do mundo adentrando no meu peito sem pedir licença e se apropriando de mim.


  
  Até então eu só estava escutando, vendo e lendo tudo que aparecia defronte aos meus olhos e ouvidos.

  Mas agora é minha vez de falar deste evento tão grandioso e polêmico. Já que sou maior de 50 e me permito dizer o que quero.

  E quero falar que vivi toda a época da ditadura brasileira, que fui às ruas pelas diretas já, que votei e votarei sempre em Lula, Dilma e outros que considero merecedores do meu voto.

 Quero falar dos meus filhos e de vários filhos de outras mulheres, que estarão nas ruas protestando durante a copa. Reconheço justos aqueles protestos que, sem badernas e ou atos covardes, mostrarão ao mundo o que o Brasil tem de mais lamentável. A corrupção enquanto a maior ferida aberta deste imenso país. A violação dos direitos humanos com trabalhos escravos, prostituição infantil, tráfico de pessoas e por ai afora. Sei de tudo isto e sabemos muito mais. Tristemente.

  Mas agora quero falar que meu amor venceu a razão.
 Já estou torcendo pelo Brasil. Não tem jeito com esse meu coração vagabundo. Não me importo.

  Considero a combinação verde-amarela tão feia quanto marrom com azul, mas serão estas as cores que presentearão meus olhos durante todos os jogos.

  Ficarei com a alegria do lateral esquerdo Marcelo, com a fortaleza do Hulk, com o brilho do Neymar e todos os jogadores da minha seleção.

  Também torcerei pelo meu avô, Portugal. Ainda hei de ir lá conhecer o Tejo e o rio da Aldeia de Fernando Pessoa. E Cristiano Ronaldo dará seu show de beleza e arrancará suspiros de milhares de jovens brasileiras.

  Também torcerei por Camarões, pelo colorido de seu povo, pela exuberância de sua cultura e por nossa vergonha pelas centenas de escravos que dali vieram e por milhares de outros escravos que por ali passaram em direção às Américas. Mil agradecimentos por nossa cultura tão diversa e mil perdões pela escravidão de seu povo. E é por tudo isto também torcerei pela Argélia, por Gana e pela Nigéria.

  Não deixarei de torcer pela seleção Celeste Olímpica. Nosso vizinho irmão, Uruguai, onde estive recentemente e fora tão bem acolhida. O carisma do presidente José Mujica e a beleza de Diego Forlán são, para mim, marcas registradas.

  Esqueci-me de dizer que não entendo nada de futebol.

  Mesmo assim também torcerei pela Argentina, pelo tango e pela genialidade de Messi. Continuarei respeitando Maradona e Che Guevara nascido em Rosário, solo argentino.
  
 E vou torcer pela Colômbia e por Úrsula, com seus “Cem anos de solidão” em Macondo de Gabriel Garcia Márquez.

  Não será nesta ordem ou nessa desordem, mas também torcerei pela La Verde com seu país de belíssimas cidades. Desde sempre eu gosto muito do povo boliviano. Vá eu entender esse amor.
  
  Ainda torcerei pelo Chile e pelos poemas de Pablo Neruda.  Depois México, Costa Rica e Honduras.

  As seleções europeias e as demais seleções também terão minha torcida.

  Eu não deixarei de torcer pela Itália de Paulo Rossi e de meus antepassados em Casaletto Spartano. Jamais esquecerei Zinedine Zidane da seleção francesa campeã mundial de 1998.

 Bem agora chega de tanta torcida.

 São trinta e duas seleções e eu quero assistir todos os jogos que minha rotina de trabalho permitir.

 Há de ser campeã aquela seleção que apresentará um futebol bonito, elegante, cheio de dribles e outras belas jogadas; e, obviamente, a seleção que fizer mais gols. Vencerá o país merecedor de tal feito desde que este país seja o meu Brasil.

 Entretanto ao lado de toda minha euforia tem o temor pelo que virá das ruas. Então torcerei pelo sucesso dos protestos e seus jovens de um lado. E torcerei pela competência e retidão das forças repressoras do outro lado.

 Meu coração todo dividido há de estar no compasso da alegria, da expectativa, do entusiasmo, do orgulho pelos filhos corajosos e no grito que ficará preso até que tudo se acabe.


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