Terceiro dia
A recepção feita por uma simpática, e jovem, nissei que foi logo explicando acerca do trajeto de 970 metros aproximadamente, por entre a vegetação de transição entre o cerrado e a mata Atlântica. Veríamos o "Buraco" por dois mirantes construídos para tal fim. Falou que ali era uma fazenda de gados. Mas o proprietário, Sr Modesto, percebeu que poderia transformar, aquele tão perigoso buraco para o gado, em atração turística uma vez que já vinha muito gente para conhecer o "seu buraco". Durante o curto percurso a bióloga mostrou-nos algumas espécies nativas como o famoso tronco do angico- branco cuja casca lembra a pele de um jacaré, as cagaiteiras e tantas outras diversidades daquela rica flora regional. Ali era o município de Jardim, bem próximo a Bonito.
Então eis que nos aproximamos do tal buraco. Imediatamente meu coração disparou e meu olhar se perdeu diante de tanta magnitude, de tanta beleza e de tantas questões. O que é isto? Como se deu tal formação? Quem descobriu isto?
Estávamos a margem de uma dolina, formação geológica, com quinhentos metros de circunferência, cem metros de diâmetro e cento e seis metros de profundidade, o equivalente a um prédio de dez andares. Meus olhos não paravam de contemplar aquele trem que mineiro algum jamais sonhara em ver por suas terras. Algumas árvores ao redor e, poucas delas, nas paredes em linhas retas até o fundo onde, num lago esverdeado, os famosos jacarés do papo-amarelo vivem comendo uns aos outros uma vez que não há outros alimentos. Talvez comam alguns mamíferos que arriscam descer ou caem ali.
E são nestes imensos paredões que as araras encontram os lugares perfeitos para procriarem pois não há predadores que cheguem até lá. Ainda tivemos a sorte de ver, através de binóculos, um casal de araras com seus filhotes colocando suas caras para fora do ninho a nos presentear com tal espetáculo.
Entretanto tal beleza me emudeceu. Todos os meus sentidos foram colocados nos olhos e no coração.
Então a jovem japonesa nos convidou para continuarmos nosso caminho até o outro mirante, no lado oposto da circunferência do buraco. De lá ela nos contou histórias do imaginário popular acerca daquela dolina descoberta em 1912 e lembrei do imenso Titanic que naufragara naquele mesmo ano. Pensei que aquele buraco seria ainda mais belo que o navio.
Ali teria servido como cemitério a céu aberto para os desafetos do bandoleiro Silvino Jacques que colocava os mesmos de costas e os mandavam correr pois iriam atirar balas neles. Os pobres coitados corriam da morte pelas balas dos bandoleiro direto para a morte inimaginável.
Então me veio uma questão: como aqueles jacarés foram parar ali? Perguntei.
A resposta veio da nissei a brincar conosco dizendo que a fêmea estava com ciúmes do macho, ao redor do buraco, e ameaçou pular no buraco. Talvez por descuido acabou caindo lá e o marido apaixonado pulou também gritando "ah! diaba eu vou atrás de você até no inferno". E viveram felizes para sempre no fundo daquele buraco. "Histórias do Sr. Modesto" nos disse ela. E foram muitas histórias de bandoleiros, da carcaça de uma Brasília tirada lá do fundo quando uma mega expedição da marinha (ou corpo de Bombeiros?) desceu de rapel para explorar o buraco. Além de tirarem vários ossos humanos de, talvez, vinte e uma pessoas.
E eu escutei de Alda Lucia, a minha bela cunhada, por mais de uma vez: "e eu que nem botei fé nesse passeio de hoje. Nossa, isso daqui é muito lindo". Falou num sotaque misturado de mineira do sul e de paulista do interior.
Na volta paramos próximo a algumas araras que vieram beber água nos bebedouros devidamente colocados para elas, em pontos mais elevados das árvores no entorno do buraco já que há o risco delas serem devoradas pelos jacarés caso voem até o lago. Então nossa guia relatou-nos que, na semana anterior àquela, uma jiboia escondeu-se dentro do coxo d'água e quase devorou uma arara. A gritaria com os socorros de outras araras ecoou num som exasperador por toda região. A jiboia não voltou mais. E eu, morrendo de medo, voltei procurando as danadas das jiboias por todo o resto do caminho.
Depois de meus olhos verem tamanho buraco e rara beleza o passeio da tarde num balneário de várias piscinas naturais e muita água apequenou-se. Entretanto assistir aos exímios nadadores, entre eles meu jovem sobrinho, disputando com os dourados o nado contrário à forte correnteza, na piracema, foi um show a parte. Uma ilha aninhada de árvores e pássaros, muitos quiosques, uma caipirinha dividida e muito cansaço encerraram o passeio daquele dia.
Voltamos mais cedo para o hotel e fui explorar a imensa piscina que mais lembrava um lago cercado por pedras. E então nadei e mergulhei muito. Eu ainda estava sob os efeitos do "Buraco das Araras". Aterrorizante e belo. Assustador e sedutor. Inimaginável e real.
Amanhã nosso ultimo dia será na Gruta do Lago Azul, ao amanhecer. Depois rumamos de volta para nossas Minas Gerais.
Até então.
A resposta veio da nissei a brincar conosco dizendo que a fêmea estava com ciúmes do macho, ao redor do buraco, e ameaçou pular no buraco. Talvez por descuido acabou caindo lá e o marido apaixonado pulou também gritando "ah! diaba eu vou atrás de você até no inferno". E viveram felizes para sempre no fundo daquele buraco. "Histórias do Sr. Modesto" nos disse ela. E foram muitas histórias de bandoleiros, da carcaça de uma Brasília tirada lá do fundo quando uma mega expedição da marinha (ou corpo de Bombeiros?) desceu de rapel para explorar o buraco. Além de tirarem vários ossos humanos de, talvez, vinte e uma pessoas.
E eu escutei de Alda Lucia, a minha bela cunhada, por mais de uma vez: "e eu que nem botei fé nesse passeio de hoje. Nossa, isso daqui é muito lindo". Falou num sotaque misturado de mineira do sul e de paulista do interior.
Na volta paramos próximo a algumas araras que vieram beber água nos bebedouros devidamente colocados para elas, em pontos mais elevados das árvores no entorno do buraco já que há o risco delas serem devoradas pelos jacarés caso voem até o lago. Então nossa guia relatou-nos que, na semana anterior àquela, uma jiboia escondeu-se dentro do coxo d'água e quase devorou uma arara. A gritaria com os socorros de outras araras ecoou num som exasperador por toda região. A jiboia não voltou mais. E eu, morrendo de medo, voltei procurando as danadas das jiboias por todo o resto do caminho.
Depois de meus olhos verem tamanho buraco e rara beleza o passeio da tarde num balneário de várias piscinas naturais e muita água apequenou-se. Entretanto assistir aos exímios nadadores, entre eles meu jovem sobrinho, disputando com os dourados o nado contrário à forte correnteza, na piracema, foi um show a parte. Uma ilha aninhada de árvores e pássaros, muitos quiosques, uma caipirinha dividida e muito cansaço encerraram o passeio daquele dia.
Voltamos mais cedo para o hotel e fui explorar a imensa piscina que mais lembrava um lago cercado por pedras. E então nadei e mergulhei muito. Eu ainda estava sob os efeitos do "Buraco das Araras". Aterrorizante e belo. Assustador e sedutor. Inimaginável e real.
Amanhã nosso ultimo dia será na Gruta do Lago Azul, ao amanhecer. Depois rumamos de volta para nossas Minas Gerais.
Até então.
Que o ser humano aprenda a imitar a natureza, e consiga preencher com beleza os buracos que a vida abre em nossa trajetória. Acho que estou meio filosófica hoje. Culpa do vinho!
ResponderExcluirBom regresso e ainda estou esperando você e Dadaça por aqui.
Que o ser humano aprenda a imitar a natureza, e consiga preencher com beleza os buracos que a vida abre em nossa trajetória. Acho que estou meio filosófica hoje. Culpa do vinho!
ResponderExcluirBom regresso e ainda estou esperando você e Dadaça por aqui.
Que lindo passeio
ResponderExcluirUau! Bateu uma vontade de conhecer. 🙌🙌🙌👏👏😍
ResponderExcluirVá lá. A emoção é de cada um. O Brasil é lindo demais.
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