terça-feira, 2 de outubro de 2018

Carta de Amor XII



Meu caro, bom dia.

Como, às vezes acontece, passei algum tempo afastada de todos. Não que eu tenha esquecido você. Isto não! Assim como outros animais também preciso aninhar-me durante o inverno. Talvez seja uma maneira de fugir do que a vida me demanda. Talvez seja uma maneira de estar apenas comigo. Mas não me interessa saber do que me causa o refúgio deste ano. Só sei que preciso dele. E nesse tempo estranhas idéias me assombravam a mente. 


Embora não tivesse feito o frio que desejei enrosquei-me em trapos da memória para aquecer minhas saudades de ti. E quantas lembranças de épocas felizes! Se fecho os olhos ainda posso ver o matiz rosa da blusa que confeccionei quase toda costurada à mão, em pontos paris, para estar com você amadrinhando nossos amigos no casamento. Eu estava deslumbrante ao seu lado e, acredito, muito mais por sua companhia do que pela roupa que cobria meu corpo adolescente. E você vestiu-se com um dos seus carros antigos; um Cadillac? Lembro da cor verde fundo de garrafa. Levou a noiva nele? Isto não me lembro.

Mas foi-se o tempo das tristezas. A primavera chegou e junto com ela todas as cores. Outras decisões. Rumos novos ou mesmo os antigos. Acordei outra nesta última semana. As saudades metamorfosearam em borboletas multicoloridas. Saí do casulo voando por ares de aromas diversos. Quero viver tudo outra vez. 

Meu coração deseja novas paixões e meu corpo já se delicia com outras carícias. Estou pronta. Refeita de um amor que ficou no outono. No verão estarei exposta ao sol, correndo nas enxurradas ou saltando na ondas de algum mar aberto. Então meu olhar será convocado a ver outro homem desejante de estar ao meu lado. E, mais uma vez, aceitarei o drinque oferecido e a cama macia. Leremos histórias, poesias e brindaremos ao amor da maturidade.

E você ficará apenas na memória que tão logo se apagará.

É mais uma despedida.

Boa dia

24/09/2018


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