segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Carta a um amigo professor



Caro amigo 

Neste dia do professor lembrei-me de você.
Como sabe estamos em campanha eleitoral. Nosso país nos próximos dias deverá eleger um novo presidente da república. As redes sociais lotam as telas com propagandas de um ou outro candidato. Acho que estou virando uma zumbi vagando por tantas postagens. 

Como posso imaginar que mais da metade dos eleitores tem apoiado um candidato cuja história pregressa dentro ou fora da politica nacional é a mais sombria e repulsiva para quaisquer cidadãos? Como posso discutir com amigos e parentes que apoiam este candidato se eles não querem ver? Como posso sonhar com meu país solidário, soberano, rico, sem miséria se o que nos desponta é o oposto disto? Onde estão os sentimentos mais nobres do nosso povo? Onde foram parar a certeza de dias melhores para nossos filhos e netos? O que cegam estes eleitores para além do voto? 

Mas e você? Por onde anda? Quanta saudade eu tenho das nossas longas discussões políticas.

Meu caro, já não se faz possível sentar-se à mesa com familiares eleitores de um candidato que defende tortura, porte de armas de fogo,  que legitima a violência e cultua o ódio contra as diferenças.

Não consigo mais pensar no que tem levado esses eleitores e apoiadores a se identificarem com um sujeito que se arvora à obscuridade, que ri com escárnio do que estar por vir caso seja eleito, que se isola do debate e do mundo para garantir seu lugar de nada. O que houve conosco? Perdemos a direção da justiça, da generosidade, do afeto e consagramos o ódio?

Lembro bem dos tempos de nossos encontros. Éramos dois jovens e estávamos vivendo os horrores da ditadura enquanto as emissoras de televisão nos mostravam as maravilhas das construções da Ponte Rio-Niterói, da Transamazônica e de tantas outras obras faraônicas. Nossos olhos brilhavam diante daquelas grandezas. A seleção  brasileira era “a seleção canarinho” e enchia o povo de alegrias. Entretanto, por trás havia as perseguições, os sequestros, as torturas, os desaparecimentos. Quantas mães não puderam enterrar seus filhos. Foram muitos os assassinatos. Você me falava de tudo isto. Trouxe-me livros e me presenteou com vários deles para que eu pudesse entender “O Capital” e os desvalidos da mais-valia.

Professor digo-lhe que, logo no início das propagandas eleitorais, fui ler para conhecer cada um dos candidatos. Considerei improvável que o povo brasileiro - tão pacífico que é- fosse escolher um candidato tão violento. Um candidato que nada fizera pelo nosso país enquanto deputado federal por 28 anos.  Errei. Confesso. Mas não deixei de também postar sobre as diferenças entre  eles. Continuei fazendo minha parte nesta disputa.

Meu caro, de um lado temos um mestre, portanto temos a educação, a delicadeza, a moderação, os planos para um governo consonante com a diminuição das desigualdades sociais, o respeito, a segurança social, a segurança jurídica, a segurança alimentar. Do outro lado temos tão só o outro... Ah! O outro é o avesso!

E, enquanto avesso neste caso, tenho visto o pior dentro deste homem. Um homem inescrupuloso, egocêntrico, manipulador, autoritário, mentiroso e perigoso. Um homem que odeia as diferenças; odeia negros, pobres, mulheres, um homem que odeia o amor. 

Meu caro professor, o Outro que vive dentro deste homem não quer senão mais que prazer. Quer obscenidades, quer  horror, quer violência, quer nada. Ele só quer a morte do ”inimigo” porque não suporta o vazio da sua própria existência.

Ah! Estes eleitores e seus candidatos! Não poderemos perdoá-los por não saberem o que fazem como nos ensinou o cristianismo. Eles sabem o que fazem.

Meu amigo desculpe o desabafo. Foi preciso.

Aguardo uma palavra. Quiçá uma saída
                                              Maria do Rosário

15/10/2018

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