quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

PARAISÓPOLIS

Não sou covarde
Estou covarde
Entrei na minha casa
Tranquei portas e janelas
Desliguei a TV

Fechei os olhos
Meus pés escorregaram na terra úmida
Fincaram raízes

A Amazônia incendiada não entrou na minha casa
O óleo dos mares não manchou minhas praias
As balas perdidas não furaram meu corpo

Fiz-me mulher maravilha
Coloquei vestes anti-fogo
Colori meus cabelos
Calcei botas mágicas
Bailei no funk
Mas não subi o morro

Permaneci inabalável
Foi o jeito encontrado
Para não ser o décimo menino morto
Em Paraisópolis.

04/12/2019
(Para suportar a dor pelos nove jovens assassinados pela PM num baile funk na periferia de São Paulo no último final de semana)

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