segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Carta de Amor - 14

Praia dos Amores, 06 de janeiro de 2020
(Saldemos os Reis Magos)

Meu amor,

bom dia de muito sol pelas bandas de cá.

Há muito tempo não lhe escrevo. 


Hoje minha vontade, menos de saudade e mais pelo desejo de escrever, é para lhe contar algumas novidades. Talvez a mais desagradável para ti seja que passei pelo natal sem a nostalgia dos nossos tempos que sempre me acometia nestas épocas. Obviamente que não deixei de lembrar-me de ti.

Agora quero contar-lhe das minhas viagens que nem são tantas como desejava, mas que me levam para outras viagens e, essas sim, são muitas. São inimagináveis. E estou viajando por estes dias. Ontem atravessei "sua cidade". Procurei sua mesquita. Não a vi. Acho que não queria encontra-la.

Quero confessar-lhe que, recentemente, apaixonei por outro homem. Sou assim mesmo. Uma eterna apaixonada. Sempre me apaixonando e desapaixonando. Eles nem ficam sabendo. Prefiro assim. Mas, quando algum declara seu amor por mim, escondo-me feito uma danada. Ainda neste tempo assim o fiz. Tem que ter aquela tal de química. Mas não gosto das reações ácidas. Elas são insuportáveis. Prefiro as básicas. As meladas, nem pensar. Engordam e causam diabetes.(Tô brincando) 


Reações químicas muitas vezes explodem. Outras vezes queimam... E, em algumas vezes, colorem a alma. E minh’alma tem mil cores de nós.

Meu amor, como estamos envelhecendo, agora podemos brincar de verdade.

Deixemos as guerras para os imperialistas, capitalistas, terroristas, xiitas, sunitas. Sou de esquerda. Sou do lado do coração. Sou do amor extremamente genuíno. Entretanto te alerto para um detalhe: acredito em poucas coisas. Sou uma pessoa identipartária a São Tomé (adoro esta palavra latina que significa “pessoa que nasceu no mesmo dia do seu nascimento”). Obviamente que antes da conversão. 


Este "pequeno grande detalhe" me dá a certeza da impossibilidade de nossa relação. Hoje avalio que foi a forma encontrada para nos manter distanciados. Um amor impossível será sempre um grande amor. (Um dia um colega de trabalho me alertou que “a renúnia de um amor impossível também é uma forma de amar”- jamais esqueci disto)

Nesta manhã caminhei pela praia. Brinquei com meu filho e com meu neto nas areias. Aconselhei-os a pular 13 pequenas ondas e furar (mergulhando de cabeça) em 13 grandes ondas. Disse-lhes que era nossa forma de pedir às deusas e aos deuses da água que nos trouxessem de volta a paz e o amor para o Brasil. 


Agora, enquanto te escrevo, estou defronte ao mar. Daqui vejo o esplendor das espumas brancas desvirginando o verde das águas e ouço o barulho das ondas batendo nas areias calmas. 

Então viajei no passado e lembrei-me da sua Recife de meio século atrás. Lembrei-me das águas azul-turqueza do Mediterrâneo no entardecer de Fiumicino, em Roma. Lembrei-me do azul cristal dos fervedouros do Jalapão. E lembrei-me das muitas dores e dos muitos amores entre nós. Nosso tempo ficou apenas no afeto de nossas memórias. Outros casamentos. Outras reações. Algumas, na verdade, sem quaisquer químicas. Só prazer.

Ah! Meu amor... Quanta saudade de nós! Quanto medo desse amor!

Finalizando, fecho meus olhos e imagino que o barulho do mar é você sussurrando de prazer no meu ouvido ao sentir minhas ondas tocando seu corpo.

Feliz 2020 para nós.

Sua sempre amada.


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