sábado, 1 de fevereiro de 2020

Crônica: “Um sonho de liberdade” (*)



Assim como no filme, cujo nome peço emprestado nesta crônica, não havia cometido nenhum crime que justificasse minha fuga naquela aventura. Mesmo eu estando me refugiando. Pulei no trem no movimento de arrancada e deitei sobre o eixo de um dos vagões de modo a ver os trilhos abaixo de mim. - Continuei dormindo - Queria viajar como uma clandestina. Não foi difícil. Calculei que saltaria na próxima parada. O trem atravessava minha cidade e, num cruzamento com arodovia, pulei tranquilamente e caminhei até uma padaria. Pedi um pastel daquela massa caseira, grossa e temperada. O recheio não importava. Talvez queijo como boa mineira que sou.

Acordei ainda agora degustando o sabor da massa.

E, defronte este escrevinhador, procuro desvendar os mistérios do meu sonho. Nada fácil. Mas arriscarei.

Sabemos que as construções de ferrovias brasileiras trouxeram devastações de florestas e mortes de trabalhadores por doenças regionais como a malária e a febre amarela – “cada mourão custou a vida de um trabalhador” nos conta a história. Além de tudo isto as ferrovias não trouxeram a tão programada integração do vasto território nacional como propagandeavam. Entretanto se, naqueles tempos, elas encantaram a engenharia férrea e seus viajantes em tempos passados, hoje levam embora nossas riquezas minerais.

Quantos brasileiros, assim como eu, vertem lágrimas de tristeza e ódio ao verem desfilar diante dos nossos olhos dezenas de vagões carregados dos mais nobres minérios de ferro e tantos outros. Com certeza as minas gerais também choram pela violação de suas entranhas. E choram pela morte de suas montanhas.

Provavelmente que, no meu sonho, gostaria de ter parado estes vagões. Proibi-los da matança de nossos territórios. 


Depois comeria o pastel com uma média de café no popular copo americano assim como fazem milhões de trabalhadores brasileiros nas portas das fábricas. Só queria sentir na pele a força, a coragem e o horror de ser um deles.

Pois então, no meu sonho quero a liberdade para o Brasil preso nas teias do obscurantismo, tragado na paixão pela ignorância e pelo ódio. No meu sonho quero para o meu país uma juventude saudável, gentil, sexuada como sua própria natureza, indo e vindo pelas escolas e universidades federais.

Quero meu país livre desse governo fascista.

Quero nossos filhos e netos vivendo no meu sonho de liberdade.

01/02/2020

(*) Nome do belo e premiado do diretor Frank Darabont, da obra do escritor Shepen Edwin King, de 1995.

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