terça-feira, 19 de setembro de 2023

Crônica: Dentro de uma montanha gelada.

                           



Até que enfim estou visitando meu netinho na Nova Zelândia. Por aqui, meu filho e minha nora prepararam algumas viagens surpresas para mim. Neste final de semana fomos à cidade de Te Anau, distante cento e cinquenta quilômetros de Invercargill onde eles moram, bem ao sul da Ilha Sul.

Saímos na noite de sexta-feira e ficamos hospedados em casa de pais de amigos. Logo ao amanhecer, abrimos as cortinas do quarto e nos deparamos com uma visão deslumbrante. Um jardim sobre uma vegetação rasteira bem cuidada; a estrada de acesso à casa que fica fora da cidade; um lago, mais parecendo um braço do mar, que balançava suas águas ao vento e, lá no fundo, as montanhas nevadas.

Neste instante engoli seco, parei os olhos e fui para dentro de mim. Eu, que já havia namorado tantas imagens daqui, jamais pensava vê-las tão de perto. Certamente que, chorona como eu sou, as águas dos meus olhos se misturaram àquelas águas geladas do lago.

O casal que nos recebeu, apesar de não falar português assim como eu não os entendia em inglês, foi muito gentil e nos deixou a vontade naquela casa enorme em estilo casa de campo inglesa.

Ainda pela manhã fomos para o passeio previsto para o sábado. Dirigimos até a margem daquele que eu pensava ser um outro lago. Esperamos alguns minutos e entramos num iate com sua maioria de turistas asiáticos. O vento forte jogava o iate de um lado para outro num balanço delicioso. Estávamos no Lago Te Anau que fica no “canto sudoeste da Ilha Sul da Nova Zelândia. O lago cobre uma área de 344 km², tornando-se o segundo maior lago em área de superfície da Nova Zelândia e o maior da Ilha Sul. É o segundo maior lago da Australásia em volume de água doce”. Wikipedia (inglês). É um lago permanente, “abastecido” pelas águas geladas que descem das montanhas.

Chegamos ao nosso destino, uma caverna seguindo um rio subterrâneo, que desce em estrondosas cachoeiras por debaixo dos nossos pés. Cada grupo de dez pessoas era acompanhado por um guia que ia dando as orientações e explicações. Em alguns pontos, logo à entrada, quase nos agachávamos ao chão porque o teto ficava bem baixo. Continuamos subindo por debaixo de um teto gelado nas nossas cabeças e por cima de um rio caudaloso, gelado e barulhento.

Enfim chegamos ao fim. Assim eu pensava além do medo daquilo desabar sobre nós. Engano dos meus pensamentos. Apareceu da escuridão um pequeno bote e dele desceram outro grupo. Agora era a nossa vez de entrar naquela canoa e descer ao "Hades". “OH! My God”, suspirava eu em inglês para ver se era atendida no meu medo. Por toda a caverna não poderíamos fotografar por questões de segurança e ali também não poderíamos falar. Tínhamos que ficar sentados com as mãos nos joelhos. O bote era puxado por cordas e o “nosso Virgílio” fazia tudo no escuro. Meu filho a todo instante me acariciava as costas. Em determinado momento senti a mão da minha da nora segurando a minha. Um alívio.

Eis que, na escuridão de noites sem lua, apareceram milhões de estrelas em nossa volta. Ali eu vi mais que as Três Marias, vi todas as Marias, vi as constelações de câncer, de escorpião, vi toda a via láctea e todas as vias que, por ventura, existem no universo. A visão é inimaginável naquele lugar. Um céu escondido, naquele rio gelado, dentro de uma montanha gelada.

Pois bem, trata-se dos vermes luminosos, que dão nome àquela caverna "Te Anau Glowworm". São filamentos transparentes, “uma baba” como explicou meu filho, que como teias de aranhas servem para capturar outros insetos para se alimentarem. A ponta destes finíssimos filamentos são biofluorescentes dando aspectos de pequeninas estrelas brilhando pelos tetos e paredes laterais. Estes
 tais “Glowworm” bioluminescentes só existem na Nova Zelândia e já foram catalogados na escala zoológica como “Arachnocampa luminosa”. Navegamos sob as estrelas dentro de um barco onde não podíamos mexer além da batedeira dos nossos corações. Para mim esse percurso durou uma eternidade, com certeza.

Voltamos à úlitma plataforma onde eu havia pensado ser o fim. Agora iniciamos nossa descida até a entrada da caverna. Ali fomos recepcionados pelo grupo de guias com vídeos explicativos, muitos sorrisos curiosos e as perguntas do meu neto sobre o café. Mais uma surpresa quando nosso guia, ao ouvir nosso português, veio nos perguntar se éramos de Portugal, sorriu quando falamos que éramos brasileiros e nos disse, já em espanhol, que era chileno. Senti que estávamos em casa.

Voltamos para o iate bailando sobre o lago e os ventos cortando na carne, então perguntei para o meu neto o que mais o  impressionou naquele passeio, a que ele respondeu sem titubear “a minha coragem, vovó”. Mal sabe ele que, além dos vermes babentos luminosos estelares, o que mais me impressionou foi minha coragem também.

18/09/2023

OBSERVAÇOES:
1 - Lamentavelmente a surpresa que preparam para mim no domingo foi cancelada por motivos de segurança, pois havia tido uma avalanche que obstruiu a estrada. Ainda não sei do que se trata. Aguardarei)

2 - Agradeço a gentileza da Sabrina, mãe da linda Amora, recém conhecidas na cidade de Invercargil, pelo envio da foto da montanha gelada. 

3 - Quem quiser viajar também por essa caverna, segue abaixo o link.

https://www.realnz.com/en/experiences/glowworm-caves/te-anau-glowworm-caves/

4 - Peço que assinem os comentários para eu saber quem os escreveu. Obrigada

As fotografias abaixo são do link acima













     
              "vermes babentos" que enchem a escuridão da caverna de estrelas





 Fotografia:arquivo pessoal

                                                Francisco, meu filho e eu


                                                       Francisco, Dani, Dudu e eu


Vista da casa dos amigos em Te Anau








6 comentários:

  1. Você nos faz viajar junto, imagina do cada detalhe da beleza do lugar e seu coração pulsando, de alegria e "medo". Lindo. Adorei.

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  2. Oi Rivelli
    Como é bom viajar com você segurando sua mão na hora do.medo e toda essa emoção brotando dos olhos. Tô pegando carona na sua inspiracao. Grande beijo invejoso!

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  3. Que lindo,Zarinha! Curta bastante sua viagem e vai nos relatando suas aventuras.Viajamos junto com você.Um abraço!

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  4. Consolação Magalhães29 de setembro de 2023 às 06:48

    Senti o seu medo e emoção. Adorei viajar na sua viagem.

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  5. Que viagem maravilhosa amiga ! Amei ler o texto . Um abraço amigo pra vc tbm . As fotos ficaram ótimas .

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