A viagem foi um tanto cansativa
devido às escalas aéreas, mas nada que pudesse prejudicar nossa alegria pelo
descanso merecido.
João Pessoa é a cidade
mais oriental da América do Sul com belíssimas e preservadas praias.
Não deixei de ir ao tão esperado por do sol na praia do Jacaré. Ali, “Jurandir do sax” apareceu tocando Bolero de Ravel, dentro de um pequeno barco no estuário do Rio Paraíba. Emocionante. Sem deixar de falar na praia de Tambaba, única praia de naturismo oficializada no nosso nordeste. Muita euforia e curiosidade de alguns e constrangimentos de outros.
O povo paraibano recebeu-nos
com muita alegria. São grandes anfitriões. Prometi voltar lá. Quero ir à festa
de São João em Campina Grande e me fartar de forró.
Conhecemos lugares que fizeram
parte da historia do Brasil; conhecemos pessoas interessantes de São Paulo e do
Rio Grande do Sul, além de um charmoso garçom angolano e muitos outros coloridos
para a alma.
Entretanto um determinado acontecimento chamou minha atenção.
Foi num final de tarde.
Da janela do ônibus, parado nesse momento, meus olhos foram convocados a assistirem uma cena quiçá moderna demais para meu olhar viajante.
Um menino de mais ou menos quatro anos, com sua bermuda e sua cueca arriadas até a areia da praia. Ele fazia xixi, se deliciava com as ondas beijando seus pés e olhava para seu fluxo urinário caindo de encontro às águas do mar.
Procurei por alguém que estivesse cuidando daquela criança.
Da janela do ônibus, parado nesse momento, meus olhos foram convocados a assistirem uma cena quiçá moderna demais para meu olhar viajante.
Um menino de mais ou menos quatro anos, com sua bermuda e sua cueca arriadas até a areia da praia. Ele fazia xixi, se deliciava com as ondas beijando seus pés e olhava para seu fluxo urinário caindo de encontro às águas do mar.
Procurei por alguém que estivesse cuidando daquela criança.
Então vejo um homem agarrado a uma ultramoderna
máquina fotográfica como se aquelas lentes fossem deveras seu olhar. Ele
fotografava outra criança; esta uma menina ainda por andar, mantida segura pela
mão da mãe e sem entender nada do que estava acontecendo. A mãe fazia poses de
modelo. O olhar fotográfico do pai era só naquela filha.
O menino tentou aproximar
daquela cena. Não havia lugar para ele sob o olhar do pai. Ele vira as costas e
volta em direção ao mar que o chamava.
O menino tentou novamente
aproximar do trio que, mais uma vez, o ignorou. Deu várias voltas, levantou os
braços, num chamado em vão.
A mãe toda preocupada com seu longo vestido verde balançando com o vento marítimo.
O pai continuava tomado pelos olhos que não eram seus. A menina ficava sem nada entender.
O menino começou a sentir-se ainda mais preterido. Corria em direção ao mar e voltava correndo quando a maré vinha em sua direção. A bermuda e a cueca continuavam arriadas dificultando seu correr.
“Ai meu Deus ninguém tá vendo o menino, as
ondas vão arrastá-lo”. Era eu e meu desespero de mãe dentro do ônibus.
Fiquei matutando
sobre que efeitos teriam para aquela criança e tantas outras as experiências de desamparo
frente ao não olhar do pai ou da mãe?
Pensei naquele pai que
precisava de um instrumento interposto entre seus olhos e sua família para
continuar não vendo aquilo que ele não
conseguia olhar, ou seja, uma esposa desejando ser amada, uma filha tentando dar seus primeiros passos e um filho
pedindo um lugar naquela cena.
O ônibus deu partida sem
que o homem tivesse tirado a máquina de seus olhos.
15/05/2014
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