segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

VIAGENS DE RÉVEILLON




                             VIAGENS DE RÉVEILLON   

  Decidida nossa viagem para Itapetininga (SP), lá fomos nós comprar nossas passagens. Avião ou Cometa? Qual dia iremos?  Um belo aniversário na noite do dia 27, há muito agendado e nossas presenças confirmadas, nos fez decidir pela viagem no único horário diário para Sorocaba, ou seja , às vinte e trinta horas do dia vinte e nove de dezembro. Obviamente já havíamos decidido pela viagem terrestre. O preço alto das passagens aéreas, as dificuldades nos traslados, o meu gosto pelas estradas e a lembrança dos dizeres de uma amiga, " eu não viajo em trem que afunda e nem em trem que  avoa", me fez optar pelo trem que roda.

  Eu e minhas filhas planejamos, mais uma vez, nosso réveillon na casa do meu irmão. Uma gostosa chácara, com pomar, muito verde, área de lazer e a boa companhia da cunhada, dos meus sobrinhos e dos primos destes.

  Desistimos da viagem programada para o interior de Minas, no aniversário tão bem planejado. Conseguimos antecipar nossas passagens. Assim aproveitaríamos mais e não ficaríamos tão cansadas. Saímos de casa às dezoito horas pois "mineiro não perde trem". É melhor esperar que perder o trem. Quase não dormi durante a viagem. Desci na primeira parada, em Oliveira. Um café com leite e um pedaço de bolo de laranja, só para não sair do sabor dos vários anos de viagens. De avião não tem essas paradas tão gostosas. Só aqueles empacotados biscoitinhos com refrigerantes.

  Quase sete horas da manhã e meu sobrinho já nos esperava na rodoviária de Sorocaba. Mais sessenta quilômetros e estaríamos "em casa".

  Acho que, em São Paulo, tudo é muito grande. As rodovias sem fins, as cidades com suas imensas avenidas, os edifícios luxuosos, as industrias, as plantações e o capital enfim. Certamente o relevo do planalto paulista trouxe suas contribuições.

  Chegamos à casa do meu irmão depois de catorze horas viajando. Minha cunhada já esperava com uma recheada e diversificada mesa do café da manhã. Abraços, risos, brincadeiras, conversas em dia e a preparação para todos aqueles dias até nosso trinta e um de dezembro.

  Durante todo esse tempo meus pensamentos viajaram mais do que eu. É sempre assim quando embrenho por um caminho diferente daquele de todos os dias. Faz-se necessário cuidar e encontrar pontos de parada senão minhas viagens não tem voltas. Lá e alhures encontro com meu avesso. Paro, olho, escuto, observo e entrego-me. Às vezes o sono não vem. O calor e as idéias tomam conta.

  Itapetininga, do tupi-guarani, pedra ou laje seca, é  um dos maiores territórios municipais de São Paulo. Foi criada pelos tropeiros por volta de 1760, pois apresentava uma boa distancia de Sorocaba, doze léguas, para o descanso das tropas. Está localizada a sudoeste do estado. Ela convive, como muitos outros municípios brasileiros, com um centro histórico antigo e belas avenidas e construções modernas. Naturalmente é uma rica cidade polo, rodeada por dez pequenas cidades, incluindo a capital brasileira da música, Tatuí, com a maior escola de música da América Latina. O calor quase insuportável de seus 670 metros de altitude é amenizado pelas brisas noturnas que, dizem, vêm do mar, não muito distante dali. A cidade tem mais ou menos cento e cinquenta mil habitantes.

  São muitas as igrejas por lá, uma delas apresenta a arquitetura em proporções diminuídas do Santuário de Aparecida. Entrei na Igreja de São Paulo Apóstolo e fiquei impressionada com o tamanho da mesma uma vez que fica localizada num bairro pequeno. Mas a padroeira é Nossa Senhora dos Prazeres. Então está tudo subentendido...

  Familiares da minha cunhada, de São Paulo e Alfenas, chegaram na antevéspera do réveillon e a alegria só aumentou. Até o Whisky, um brincalhão Border Collie, veio para aproveitar o espaço da chácara, acabar com o sossego da chique vira-latas, Laica, e desesperar o sono da temível fila, Hanna. A confusão canina estava armada.

  Todos encantaram com os novos moradores da área verde ou seja, enormes lagartos que chegaram não se sabe  de onde, furaram vários buracos e fincaram residencias. E eu apaixonei com o ritual de acasalamento dos curiós. Meu irmão não descuidava um só minuto da fêmea galada. E o estridente canto do macho ecoou por todos os lados

  No campeonato de vôlei de piscina, biribol, meu time, até que jogou bravamente, mas foi logo desclassificado. No baralho, jogamos buraco e alguns reclamaram que  tiveram sorte  no azar e outros reclamaram que tiveram azar na sorte.

  Enfim chegou a última noite do ano e as cores branca e prata enfeitaram toda a casa, a piscina e as roupas. Nada que não fosse dentro dos padrões e dos conformes. Deliciosas saladas, arroz branco e pernil. A grande amiga japonesa trouxera cordeiro e pacu assados. Cida fez minha sobremesa predileta, pudim de ricota com raspas de limão. Não faltaram meu vinho favorito, muita cerveja gelada, champanhe, afetuosos abraços e viva 2015 !
   
  Chegou mais um novo ano.
  
  E chegou, também, o derradeiro dia de nossas férias. Passagens nas mãos e lá estávamos nós de malas prontas para a volta.

  Parece que acordamos de um sonho. Desconforto no ônibus. Parada para o lanche num local decadente, empestado pelo cheiro das frituras, banheiros imundos e um péssimo atendimento.

  E chegamos no nosso Belo Horizonte. Sem parada em Betim, tivemos que voltar. Quase uma hora depois nos chegou um ônibus, sem trocador e com motorista mau humorado. Despertamos de fato em outro lugar.

  Agora nos vem novos dias de trabalho, correrias, estudos, afazeres sem fim. Entretanto tenho certeza que a rotina é terreno fértil para brotar outros sonhos.

 Já uma decisão está tomada. Se convidada para um terceiro réveillon na tão charmosa Itapetininga, viajaremos no trem que avoa.


03/01/2015

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