quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

NÃO HÁ PASTEL DE ANGU




                       NÃO HÁ  PASTEL DE ANGU


  Sônia desceu do décimo andar num elevador com sua máxima capacidade e nem se importou com o desconforto naquele momento. Precisava mesmo era arejar sua cabeça depois daquela manhã tão trabalhosa. Atendera dois clientes que lhe trouxera  insatisfações com os projetos arquitetônicas pedidos ao seu escritório. Ficara vários dias fazendo cálculos, refazendo medidas, criando espaços exigidos, por fim teve a certeza que seus clientes iriam gostar do que desenhou. Não gostaram e pediram para que fosse refeito.

  Sônia sempre fora uma dedicada arquiteta e ganhara prestígio e sucesso financeiro. Não entendia porque ainda passava por constrangimentos como daquele dia. Agora, já saindo do elevador, decidiu tomar um café. Caminhou até a lanchonete ao lado do edifício. Foi atendida por Roberto que logo perguntou se queria o costumeiro café forte com adoçante e um pão de queijo. Ela assentiu, sentou e aguardou.


  Terminado seu lanche se dirige a Roberto e diz:

-que tal um pastel de angu em algum final de tarde?

  Não arrependeu, como sempre acontecia, do inesperado do convite.

  Dele a resposta veio também no sem pensar:

  -“só se for hoje”

  Combinaram o horário e o local para aquela noite. 


  Ela voltou para sua mesa e seu computador de última geração com os mais modernos programas para projetos arquitetônicos. Carecia refazer aquela planta que fizera com tanta perícia e competência. Mas agora seu ânimo era outro. Haveria de ter paciência.

  No final da tarde foi para casa. Conversou com seus filhos, contou de seu encontro como sendo um convite para jantar. Riram da ansiedade da mãe e ririam muito mais se soubesse de seu atrevimento para o convite e do tal pastel de angu. A mãe nunca saia de casa. Era só trabalho, estudos e filhos. Ficara viúva ainda muito jovem e deu de cara com sua tarefa dobrada de mãe e pai.

 Vestiu uma roupa especial e lá se foi ao encontro  marcado.

  Roberto foi pontual. Também estava alinhado e ela sentiu feliz pelo cuidado dele em estar bem vestido.

 -então vamos ao pastel ?  Disse ela com sua costumeira desinibição inicial.

  Ele abriu a porta do seu carro, aguardou que ela se ajeitasse, ajudou-a a colocar o cinto de segurança e se foram. 


  Viajaram por quase 40 Km e ela jurava que havia visto a placa e a lanchonete por todas as inúmeras vezes que passara por aquele trecho da rodovia. Ela não se deu por vencida. Continuaram até a sinalização do pedágio a um quilometro dali.


  Desistiram e voltaram.


  Roberto era um belo homem. Era bem mais jovem que ela. Sônia também tinha lá suas belezas. Já com seus quarenta e cinco anos ainda guardava seu charme. Tinha os cabelos claros e os olhos esverdeados. Sempre o admirava e observava a elegância  e cortesia no trato com os clientes da cafeteria. Às vezes conversavam sobre assuntos cotidianos, sobre os filhos, sobre filmes e música. Observara outrossim que ele era muito assediado pelas mulheres. 


  Enquanto voltavam, sem rumo, Sônia aceitou a proposta de Roberto para uma surpresa.


  Os assuntos eram intermináveis. Pareciam dois velhos e bons amigos. Então o carro parou na frente de uma casa, num bairro desconhecido para Sônia. Já estavam em outra cidade.


  Ele desceu do carro , deu a volta e abriu-lhe a porta.

  
 - Esta é minha casa.

  Ela saiu tranquila, aceitou-lhe a mão na descida do carro e o acompanhou. Entraram juntos. Sônia viajou pelo interior daquela casa e gostou do ambiente sóbrio e  organizado. Seus olhos fixaram na grande coleção de videos. Aproximou e deparou com clássicos do cinema francês, italiano, iraniano, japonês, inglês e alguns brasileiros como Central do Brasil e Carlota Joaquina. Gostou ainda mais Roberto de partir de então.


  Ele a levou até a cozinha e lhe preparou um drinque com rum, coca-cola e uma pedra de gelo. A seguir tirou da geladeira arroz, ovos, queijo e bacon e fez o melhor omelete que já comera.

  A cuba-libre a deixou mais alegre. Não estava acostumada com bebidas alcoólicas. Sentaram mais próximos e puderam ver o contraste de suas peles. Ele muito negro e ela muito clara. Sorriram e brincaram com as diferenças.


  De  repente ele envolveu-a num abraço com todo seu corpo suave e quente. Beijaram-se. Ficaram ali calados por algum tempo. Então ele deu-lhe a mão e a conduziu até seu quarto.

  Acordaram com a claridade do dia. Levantaram e saíram juntos para um café da manhã. Na padaria uma jovem os atendeu e disse:

 - Bom dia Sr Roberto. Hoje tem novidade no café! Pastel de angu! Você querem experimentar?

  Responderam em coro:

  - Sim, queremos.

  E a garçonete ficou por entender tanta felicidade...



04/02/2015

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