segunda-feira, 1 de junho de 2020

Poema: O Homem

(Delicadezas em tempos de Coronavírus  XI)



O Homem

Calado, cabeça enterrada no pescoço,

como a procurar ouro na terra.

Lá vem ele,

a roupa é a mesma do domingo passado,

do domingo retrasado

E de todos os domingos de sua vida

Desce a ladeira com a filha ao lado

Distante dele, mas no mesmo passo

As outras filhas casaram,

não tem notícias delas.

Dos filhos

só sabe que foram ganhar dinheiro em São Paulo

A esposa, Deus levou na quaresma de dois anos atrás

Por “compadre” é chamado

Compadre até do padre

Vinte e três filhos

só lhe restou esta

A filha que lhe faz o café

a broa, o feijão e o angu

Bença pai

Diz toda manhã

Bença pai

Diz ela a noite

Sua filha sem ideia de gente

A retardada.

Bença pai 




Conselheiro Lafaiete, 31 de maio de 2020

(Alongamento da terceira Oficina de Escrita de Maio)

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