(Delicadezas em Tempos de Coronavírus - XLIV)
A lua, as estrelas, as constelações pareciam conspirar para a realização do amor, quando surgiu um vento, Zéfiro, anunciando tempestade.
Naquela noite Teresa estava exuberante. Nem se dava conta de sua alegria. Parecia que aquela felicidade vinha de dentro dela. E sua alegria genuína contaminava todos ao redor.
Apesar dos ventos anunciarem tempestade, arriscou sair de casa naquele fim de tarde. Vestiu uma roupa de festa, nada muito espalhafatoso. Olhou-se no espelho. Ajeitou os cabelos. Vermelhou os lábios com aquele batom sabor cereja. Pegou seu carro e foi ao encontro das amigas.
Água para começar a noite. Uma única taça de vinho tinto seco. Nunca bebia mais que uma taça. Sabia dos efeitos na sua cabeça. Muito enjoo e ressaca no dia seguinte. Sempre foi fraca para as bebidas. Havia alguns anos que parara com os refrigerantes. Só água e sucos naturais. Além do mais estava dirigindo. O encontro com as amigas era uma comemoração. Muitas novidades sendo colocadas em dia. Muitos risos. Muitas lembranças. Muito o que falar. Eram amigas inseparáveis. Trabalhavam juntas e comungavam os mesmos ideais sociais. O bar era o mesmo de toda semana. O dono, um grande amigo de todas. Um belo jovem empreendedor; de sorriso largo e de ares de grande artista latino.
Esqueceram a tempestade lá fora. Os ventos deixaram de assobiar; apenas acariciam-nas. Uma mansidão dominou o ambiente. O zumbido dos ventos deu lugar aos zumbidos das amigas, às gargalhadas de algumas delas e os despropósitos da Conceição depois do segundo copo de sua cerveja.
Teresa, como acontecia em todos aqueles encontros, dera uma desculpa e logo foi embora. Ao chegar em casa, instintivamente, olhou para o céu. Era noite de lua cheia. O céu escuro estava claro, salpicado das estrelas que piscavam ora lá ora cá. Então pensou no grande amor de sua vida. Quantas saudades. Onde estaria ele? O que estaria fazendo? Teria casado? Pensou naquilo que os astros falavam acerca de seus signos.
Estavam separados havia muitos anos. Separados de corpos, de conversas e com longas distâncias separando-os.
Ela de câncer. Romântica, sob a inspiração e regência da lua. Suave e flexível. Ela é da água.
Ele de touro. Ligado ao prazer, ao conforto, a boa comida e boa música. Ciumento por natureza. Conservador. Teimoso. Habilidoso. Ele é da terra.
Os astrólogos afirmam que terra e água podem dar relacionamentos duradouros. Mas o que Teresa viu foi o amor deles resultar em lama.
O toque do telefone tirou-a daqueles pensamentos nostálgicos. Reconheceria sua voz até os finais do tempo. Era ele.
-Teresa, boa noite. Estou retornado para casa e encostei o carro na beirada da estrada, bem no alto da serra. Queria ver a lua. Sempre que ela me aparece assim tão bela, é de você que me lembro.
Teresa entrou em casa e deitou. Não dormiu. Chorou durante toda aquela noite.
O Zéfiro lhe trouxera arrepios no corpo e dores no coração.
Fotografias: Daniela Vida
09/04/2021
Nenhum comentário:
Postar um comentário