segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Crônica: Cananeia - "Uma cidade Ilustre"

 


  












Depois de mais de um ano e meio sem viajar, em isolamento imposto pela Pandemia, decido aceitar o convite de um irmão. 

José Eugênio ou apenas Zeugênio, como o chamamos, mora com sua grande família em Itapetininga, uma das maiores cidades do interior de São Paulo, em extensão territorial. Sempre tivemos grande afinidade e somos grandes amigos para além da irmandade. É o irmão que nasceu cinco anos depois de mim e, neste final de ano, ele me lembrou de nossas formaturas há quarenta anos. Eu na UFJF e ele na Escola Técnica Diaulas Abreu, hoje Escola Agrotécnica Federal de Barbacena. Naqueles tempos, mesmo morando próximos, nos comunicávamos por cartas e, nós dois, nos escrevíamos muito. Numa dessas cartas ele me perguntava o que eu estudava na disciplina de Puericultura. E ele mesmo respondia “uai, você está estudando a cultura da poeira?” Podia vê-lo sorrindo na brincadeira por trás do papel.

Zeugênio, apesar de morar tão longe de nós, está presente em minha vida e nas vidas dos mais de setenta familiares descendentes dos nossos pais. Recebe carinhosamente a todos nós em sua casa e está sempre nos convidando a retornar. Atualmente tenho ido mais a miúde a Itapetininga mesmo porque meu irmão e minha cunhada acolheram em sua casa minha filha mais nova que está trabalhando com um dos seus filhos.

Meu irmão sempre me fala de suas viagens a Cananeia, uma ilha no sul do estado de São Paulo, com praias e braços do mar. E, em uma de minhas leituras de livros indicados nas escolas dos meus filhos, encantei-me com a tal Cananeia. Hoje, para ser mais fiel às minhas leituras, procurei o livro junto aos demais e não o encontrei. Mais um livro perdido entre aqueles encaixotados da última mudança. Entretanto jamais esqueci dos autores brincando com as histórias do descobrimento do Brasil conforme podemos constatar na apresentação de venda do livro “Terra Papagali”:

"Décimo mandamento para bem-viver na Terra dos Papagaios: ‘naquela terra de fomes tantas e lei tão pouca, quem não come é comido’. A sábia conclusão é de Cosme Fernandes, o Bacharel da Cananéia, um dos "degredados" que aqui chegaram nos primeiros anos do descobrimento, cuja vida é recriada com saboroso humor nessa paródia, escrita por José Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta. Cosme Fernandes tem muito o que contar sobre suas experiências em terras brasileiras. Ele logo aprendeu que nesta terra é preciso dar presentes sem parcimônia, fazer alarde de qualquer dificuldade, pois aqui vale mais o colorido do frasco que o próprio remédio, que na terra de Santa Cruz não há quem não troque honradez por honraria." 

Em um dos capítulos do referido livro, os autores contam a história da pequena Cananeia, povoada no ano de 1531. Uma da primeiras cidades do Brasil. Lembro que foi muito hilariante a paródia de tal encontro com Cananeia.

Pois bem, aceitei o convite e fui para São Paulo com minha filha, presa em Mário Campos devido às inundações. Voltaria de carona com minha sobrinha com a família e minha irmã. Tudo decidido em última hora, o que acarretou pequenos transtornos. Mas nada que não pudesse ser resolvido.

Desta vez não brinquei com a lua cheia no esconde-esconde de correrias junto ao ônibus na madrugada da ida. Dormi confortavelmente numa poltrona-leito.

Em Sorocaba já estava meu irmão com sua delicadeza para nos levar até sua casa em Itapetininga. Cunhada e sobrinhos vieram no final da tarde. E foi uma noite de muita alegria e muitas preocupações com a tal variante “Ômicron” já espalhada pelo mundo afora.

Os jovens, a grande maioria dos dezoitos viajantes, sentados em torno de uma mesa, aceitaram jogar o divertido jogo “Perfil”. Muitas risadas com o japonês residente na Bolívia e suas incursões pelo português. Ele também faria parte da viagem uma vez que estava na casa da prima japonesa, esposa de um dos meus sobrinhos. Não foi com mérito que venci a disputa. Sendo a mais velha dos jogadores, obviamente, com maior acúmulo de conhecimentos e vivências.

Zeugênio, sabedor do meu amor por mapas, cidades e histórias, me mostrou no "terrível" Google Maps toda a região para onde estaríamos indo. 

-"Olha, estamos indo para a ilha de Cananeia, mas teremos que atravessar um braço de mar até a ilha Comprida onde, na ponta sul, encontraremos o mar aberto numa praia quase deserta. Do outro lado, ao sul tem a Ilha do Cardoso, cujo território nos lembra o mapa do Brasil." 

Entendi tudo, mas não consegui abstrair nada. Seria preciso estar lá para sentir todas aquelas informações.

Na manhã de domingo lá fomos nós em direção ao sul do estado de São Paulo. A decepção foi geral quando, em São Miguel Arcanjo, local onde se daria nosso café da manhã com o alardeado “bolinho de frango” estava fechado. Seguimos com nosso desjejum.

E logo entramos no Parque Estadual Carlos Botelho (PECB) “uma área protegida brasileira na região sudeste do estado de São Paulo, que abrange partes dos municípios de Capão Bonito, São Miguel Arcanjo e Sete Barras.

O parque situa-se na Serra da Macaca, ocupando uma área de 37 mil ha, com um relevo acidentado que vai de 50 a 975 m de altitude”
(Wikipédia).

Com folhetos explicativos fomos recebidos na portaria da reserva e iniciamos a travessia de trinta e quatro quilômetros por entre a maior e mais bem protegida reserva da Mata Atlântica

Um espetáculo de beleza, preservação e proteção ao meio ambiente. Clima ameno, água descendo nas encostas e logo encontrando um riacho de águas cristalinas com seu chiado por entre as pedras. No alto da serra um telescópio para os mais curiosos.

E meu irmão dando suas explicações como um guia atencioso e com grandes conhecimentos da região.

Seguimos adiante. Um pequeno comboio de três carros. Lá encontraríamos mais familiares noutro pequeno comboio de dois carros vindos de Belo Horizonte. Um grupo familiar cujas idades variavam de três a setenta anos. Mas, devo confessar, éramos todas crianças inquietas, felizes e barulhentas.

Chegamos em tempo do almoço na charmosa pousada beirando o braço do mar na histórica Cananeia. Peixes nos pratos de todos nós. Muita salada e cerveja para os amantes da bebida. Eu experimentei uma caipiríssima de uvas.

Afoitos pelo mergulho no mar, logo após a chegada dos parentes, nos dirigimos à balsa e atravessamos um braço de mar até a ilha Comprida que, segundo meu irmão, tem setenta quilômetros de extensão por três quilômetros de largura. Com o sol escaldante preferi a sombra de um restaurante bem rústico. A sensação era de que eu ainda estava em Minas das chuvas Gerais. Para minha vergonha e silêncio dos demais, pedi café com leite e pão com requeijão na chapa na beira da praia. Só no dia seguinte foi que eu me dei conta do meu ridículo. Mas devo dizer que estava delicioso meu café da manhã às cinco horas da tarde numa praia maravilhosa e ao lado de excelentes companhias.

Amanhã contarei mais histórias das nossas viagens por Cananeia.



Fotografias: do grupo "Cananeia" do whatsap

(link de um mapa da região)


2 comentários:

  1. Parabéns Rivelle!
    Muito gostoso agradável seu conto.
    Tão real que consigo entrar na sua história

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  2. Ilustre é voce D. Zarinha com seus olhos e sua beleza no OLHAR.

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